Confira detalhes dos episódios de racismo no futebol, desdobramentos e possíveis punições aplicadas
Após 5 casos de racismo no futebol em jogos da Copa Libertadores no espaço de 1 mês, a Conmebol emitiu nota oficial em tom de condenação aos atos. No documento, o órgão se comprometeu a endurecer as punições a fim de coibir novos episódios.
As mais recentes situações envolvendo torcedores de Corinthians e Flamengo, vítimas, infelizmente, são recorrentes dentro do futebol. Em competições nacionais e continentais, sem exceções.
O pós, no entanto, não anima. De casos que caíram no esquecimento a punições brandas. O trato dado aos sucessivos episódios ao longo da história do futebol.
Abaixo, o Jogo Hoje detalhou alguns dos casos de racismo no futebol.
Relembre 10 casos de racismo no futebol e seus desdobramentos:
1 – 14/02/2014: Real Garcilaso x Cruzeiro, no Peru
Copa Libertadores
Fato: O jogo era entre Real Garcilaso x Cruzeiro. A cada vez que o volante Tinga, do Cruzeiro, tocava na bola os torcedores faziam som de macaco.
Como terminou: O Real Garcilaso foi punido em R$ 27,8 mil pela Conmebol.
2 – 16/03/2016: Corinthians x Cerro Porteño, em São Paulo
Copa Libertadores
Fato: Torcedor do Cerro Porteño imita macaco para provocar corintianos na Arena Corinthians.
Como terminou: O gesto foi flagrado pelas imagens da TV. Nada consta sobre algum registro pós-jogo para tentar identificar o torcedor. O caso ficou restrito às imagens da televisão e não seguiu adiante.
3 – 17/03/2016: Nacional x Palmeiras, no Uruguai
Copa Libertadores
Fato: O atacante foi alvo de racismo durante jogo do Palmeiras contra o Nacional, no Uruguai.
Como terminou: Nacional foi multado por gestos racistas de torcedor contra Gabriel Jesus. Clube uruguaio recebeu sanção da Conmebol e pagou o valor de US$ 10 mil dólares (aproximadamente R$ 37 mil à época).
4 – 04/05/2016: Atlético-MG x Racing, em Minas Gerais
Copa Libertadores
Fato: O treinador do Racing, Juan Carlos Gambandé, protagonizou uma cena lamentável de injúria racial.
No episódio, explicitamente, ele gesticulou para os torcedores atleticanos e simulou estar comendo uma banana. Não satisfeito, seguiu provocando quem estava nas proximidades.
Como terminou: Racing demitiu preparador de goleiros. Não foi verificada nenhuma outra punição por parte da Conmebol.
5 – 12/04/2017: Palmeiras x Peñarol, em São Paulo
Copa Libertadores
Fato: Em jogo entre Palmeiras e Peñarol, no Allianz Parque, Felipe Melo acusa Gastón Rodríguez de racismo por tê-lo chamado de macaco durante o jogo.
Desdobramentos: Após repercussão do fato ao término da partida, ainda no estádio, o diretor esportivo do Peñarol, Gonzalo De los Santos, e o capitão da equipe, Cristián Rodríguez, foram falar com o atleta palmeirense.
Ambos oficializaram um pedido de desculpas em nome do clube uruguaio e de Gastón Rodríguez. Felipe Melo, por sua vez, aceitou o pedido e deu o caso como encerrado.
O Palmeiras informou que não levaria o caso adiante, considerando que a iniciativa de entrar com processo deveria partir do próprio atleta ofendido e não do clube.
Como terminou: Caso não foi levado adiante por nenhuma das partes. Não há registros de que a Conmebol tenha investigado a acusação de racismo.
6 – 06/12/2017 – Jogo: Independiente x Flamengo, na Argentina
Copa Sul-Americana
Fato: Torcedores do Independiente imitavam um macaco, de forma repetida, para flamenguistas.
Desdobramentos: O time argentino divulgou uma nota que dizendo repudiar “terminantemente qualquer manifestação de racismo e que se compromete a investigar até as últimas consequências para sancionar aqueles que tenham realizado tais lamentáveis atos”.
Para o jogo de volta da final da Copa Sul-Americana, o Flamengo lançou uma campanha contra o racismo após o ocorrido na Argentina.
Como terminou: A Conmebol condenou o Independiente a pagar multa no valor de US$ 15 mil (quinze mil dólares), além de uma advertência para sanções mais severas em caso de reincidência. Clube argentino aceitou pena.
7 – 21/08/2018: Independiente x Santos, na Argentina
Copa Libertadores
Fato: Torcedores do Santos são vítimas de racismo praticado por torcedor do Independiente, que imitavam macaco, no estádio Libertadores da América, em Avellaneda, na Argentina. Gestos foram registrados em vídeo.
Desdobramentos: Torcedores registram Boletim de Ocorrência por racismo no estádio do Independiente. O clube informou que estava analisando a situação para tomar medidas cabíveis.
Como terminou: Sem informações de advertência ou punição pela CONMEBOL
8 – 02/07/2019: Brasil x Argentina, no Mineirão
Copa América
Fato: Torcedor argentino, posteriormente identificado, imitou um macaco em meio à comemoração do gol do atacante Gabriel Jesus. O brasileiro Anderson Batista, que estava no estádio e presenciou o ocorrido, denunciou o caso em sua rede social.
Desdobramentos: O argentino, de nome Fabrizio, foi preso por injúria racial. Algemado, mostrou desespero, chorou bastante e pediu perdão.
Como terminou: Não foram encontradas informações sobre o andamento do caso.
9 – 12/03/2020: Gre-Nal, no Rio Grande do Sul
Copa Libertadores
Fato: Um torcedor do Grêmio foi filmado imitando um macaco para a torcida colorada, presente no estádio.
Desdobramentos: Não se sabe como começaram as provocações entre os presentes, mas o torcedor gremista, que imitou um macaco para os torcedores do Internacional, teria sido chamado de “gordo boiola”, uma ofensa homofóbica.
Na época, o Grêmio apurou o suposto caso de injúria racial do seu torcedor e identificou o homem – que não teve o nome revelado pela polícia – como não sócio.
Em maio de 2020, a Polícia Civil de Porto Alegre indiciou um torcedor do Grêmio por injúria racial. O caso foi encaminhado para o Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Como terminou: O caso segue tramitando no Judiciário. A Promotoria Especializada do Torcedor ajuizou denúncia para apuração criminal e a instrução do feito está em andamento, com o processo correndo em segredo de Justiça.
10 – 14/05/2022 – Internacional x Corinthians, no Rio Grande do Sul
Campeonato Brasileiro
Fato: Edenílson, do Internacional, acusou o lateral português Rafael Ramos, do Corinthians, de chamá-lo de macaco.
Desdobramentos: Durante o empate em 2 a 2 entre as equipes, em lance próximo à lateral esquerda, Edenílson afirmou ter ouvido ofensas racistas. Rafael, por sua vez, negou que tivesse dito.
Após a partida, Edenilson registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil. Ele prestou depoimento em uma sala do Beira-Rio juntamente com o presidente do Inter, Alessandro Barcellos.
Como terminou: O laudo pericial do Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, não conseguiu identificar a injúria na fala de Rafael.
De acordo com o documento, não foram vistos movimentos compatíveis com a palavra “macaco”. Nas redes sociais – e em campo -, Edenílson protestou o resultado da investigação.
Triste destaque verde e amarelo
Dados mostram o Brasil como o país líder nas ocorrências, com 18 casos desde 2014. Como os brasileiros são as principais vítimas, fica explícito que os autores dos crimes de racismo não se sentem intimidados com a localidade. Argentina e Uruguai completam o ranking.
No geral, entre 2014 e 2020, o Brasil teve em média 1 caso de racismo registrado a cada 10 dias em jogos de futebol, incluindo competições oficiais, femininas e amadoras.
Impunidade estimula racista
Desde 2014, só 1 de cada 5 atos de racismo no futebol em jogos da Conmebol tiveram punição. De acordo com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol Brasileiro, desde o ano citado, 48 denúncias ou flagrantes de racismo aconteceram.
Todas elas em competições organizadas pela Conmebol. Das 48, sete foram em 2022. Do total, apenas 11 renderam algum tipo de punição aos acusados.